Coluna
Barba, cabelo e bigode

por Ronnedy Paiva

Novembro azul e a vulnerabilidade masculina

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (2022), o Brasil enfrenta uma crescente preocupação com essa doença, com uma estimativa de 704 mil casos anuais nos próximos três anos (2023-2025). Segundo os dados, o câncer de próstata será o segundo tipo mais comum, com 71.730 casos, já sendo o segundo maior em mortalidade masculina, com 15,30 mortes a cada 100 mil habitantes. Isso destaca a necessidade urgente de diálogo e a superação de tabus.

 

A campanha “Novembro Azul” desempenha papel crucial nesse sentido, com impactos positivos na sociedade. Dados do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (2021) indicam que, embora os casos de câncer de próstata estejam aumentando no Brasil, a taxa de mortalidade não segue a mesma tendência. Isso se deve, principalmente, ao diagnosticado precoce, onde existem altas chances de cura (Ministério da Educação, 2022; Jornal Nacional, 2023). O que o homem precisa saber e fazer?

 

Contrariando um equívoco comum, o temido exame de toque não é obrigatório quando se chega à determinada faixa etária, trata-se sim de uma medida que deve ser considerada pelo médico quando há queixas específicas, ou seja, não é recomendada o exame como forma de rastreamento (INCA, 2019; SANTOS, ABREU e ENGSTROM, 2021). No entanto, se o simples ato de ponderar sobre esse exame já suscita hesitação nos homens, é compreensível que a ideia de um acompanhamento médico regular pareça ainda mais desafiador.

 

Quando nos deparamos com os motivos pelos quais os homens negligenciam a sua saúde, encontramos possíveis respostas na questão da vulnerabilidade masculina. Conforme definido pelo Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, a vulnerabilidade conota ações de fragilidade, condição insustentável para o homem moderno.

 

Porém, a concepção de uma masculinidade inabalável a qualquer custo acarreta sérios riscos à saúde. Ilustrando essa preocupação, uma pesquisa conduzida pelo Journal of Drugs in Dermatology (2021) revelou que 83% dos homens não adotam o hábito simples de aplicar protetor solar diariamente. No contexto brasileiro, vale lembrar, o câncer de pele não melanoma é o de maior incidência entre os homens.

 

Ademais, observamos padrões de comportamento de risco entre os homens e uma relutância em buscar assistência médica diante de possíveis problemas de saúde.

 

Fica claro, diante do que observamos, que é necessário promover uma desmistificação sobre o exame do câncer de próstata, bem como amplificar diálogos que abordem a questão da vulnerabilidade masculina. Esses diálogos não devem ficar restritos a auditórios e publicações científicas, é necessário estender a nossos amigos e familiares, ou melhor, a todos os espaços que contem com a presença masculina. As orientações são simples: tenha uma alimentação saudável, evite o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, pratique regularmente exercícios físicos e faça acompanhamento médico sempre que necessário, pois, apesar dos principais fatores desencadeadores do câncer de próstata incluírem idade, hereditariedade e obesidade (INCA, 2019), manter uma vida saudável pode reduzir o risco do desenvolvimento dessa doença.

Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva

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