Lembram quando a gente ia no centro com a nossa mãe ou no shopping, perto do fim do ano e passávamos na frente de uma loja de viagens, tipo a CVC? As fotos geralmente de praias azuis cristalinas, famílias ou casais felizes que ficavam na vitrine? A gente quase ouvia a risada da criança da foto. Lembro a vontade que dava pra ir conhecer aquela pousada na praia em São Paulo mesmo, ou alguma praia incrível de algum estado do Nordeste.
Lá a gente sabia que as fotos estavam sendo colocadas ali pra dar vontade, para vender algo e todo mundo sabia que quando chegasse lá não ia ser exatamente igual, por que cada dia é um dia, cada família é diferente da outra, e praias paradisíacas normalmente não estão vazias só com a nossa família. A gente tinha essa noção.
Hoje as vitrines expostas estão nas nossas mãos, estão na tela do celular. E além da gente ter perdido a capacidade de lembrar que as coisas não vão ser exatamente assim, estamos ficando mais ansiosos, com mais vontade de ir onde parece que todo mundo está, e querendo chegar lá e mostrar que aquela família incrível da foto, com o corpo incrível, na praia quase particular, é possível e é a gente!
E quando as coisas não saem como a gente esperava – não só na foto, mas no estresse da viagem também – inventamos até um termo pra isso. O tal do “perrengue chique”, que nada mais é que você estar passando por uma situação de estresse, ou incomoda, mas não poder reclamar pois está viajando e podia ser pior, você podia estar na sua vida normal.
São tantas problemáticas né?
Nesse break de fim de ano, se for viajar, ou não, seja mais paciente com você mesmo. Sair de casa pra um lugar novo, cheio de gente, alta temporada, a família toda reunida, todo mundo fora da rotina e do habitat natural: vai ser estressante. Não me entenda errado, vai ser muito bom também, mas seja paciente. Se quiser reclamar ou sentir que nada está dando certo, tá tudo bem.
Lembra que a gente fazia piada sobre as famílias margarinas que não existiam, então não tente transformar a sua ou a sua viagem em algo perfeito.
Dito isso, minha próxima dica é: Já que estamos todos expondo nossas vidas na internet como uma grande vitrine, escolha o que você gostaria de ver se estivesse assistindo a sua.
Se para você é importante tirar fotos das refeições, tire, combine com quem está viajando com você que esperem um pouco, ou pelo menos do seu prato.
Se para você é importante tirar aquela foto linda pra postar, tente conversar com seu namorado, esposa, filhos adolescentes antes da viagem, conversem sobre como seria importante pra você e pergunte o que seria importante para eles também.
Como diz a frase que li esses dias “no fim das contas, tudo é perda de tempo, então escolha como quer perder o seu”.
Tente ser realista dentro das expectativas das viagens de fim de ano: você vai pra mesma praia há 20 anos, sempre acaba a água da cidade nessa época, adianta ficar bravo que acabou nesse verão? Vai ter fila no mercado, vai ter trânsito, a mala vai demorar pra sair na esteira do aeroporto…
Acho que nada disso mais é novidade, mas talvez a novidade desse ano poderia ser a gente não ser mais um fator de estresse pra viagem da nossa família. Relaxar um pouco sabe?
Sabe quando as coisas começam a dar errado e alguém do seu grupo fica só reclamando? Isso pesa o ambiente. Ele pode até tá certo, foi errado mesmo, mas o que você tem a ver com isso? Nada, e por que você que está ouvindo? Da mesma forma a gente tentar dar uma segurada.
Eu sei, eu sei, a gente trabalhou muito o ano todo e quer que tudo seja perfeito e esta cheio de ansiedade e expectativa. Mas eu sei também que somos todos adultos.
Imagina se o que a gente postasse esse ano fossem as fotos dos churrascos, das comidas, dos lugares, dos pores do sol e também, as de toda a família tomando uma café e contando piada enquanto esperava o voo atrasado, a do casal brindando com os pés sujos por que acabou a água de novo, e rindo que virou história pra contar, ou ainda uma foto de todo mundo comendo miojo de tomate, fazendo piada com a refeição, por que a fila do mercado estava tão grande que não conseguiram comprar tudo que precisava.
Antes de pensar no que queremos mostrar pros outros, podíamos pensar na sensação que vamos ter quando olharmos pra aquelas fotos né?
Boas Festas pessoal.
Camila Aagesen é viajante profissional, se encontrou na escrita e comunicação, virou contadora de histórias, gosta mais de frio do que de calor, apesar de adorar (curtas) temporadas em ilhas quentes. Com a alma aventureira se desfez de sua base em São Paulo capital em 2018 para conhecer lugares e histórias. @camilanomade