Coluna
Universo feminino

por Priscilla Vogt

Ser brasileira: entre a frustração e a força

Confesso que, quando recebi o tema desta edição, dei risada e pensei: “Só pode ser brincadeira!”. Por um instante, considerei até pular o mês. Como abordar uma questão que tem me incomodado tanto? Sempre tive orgulho de ser brasileira, do nosso povo e das nossas raízes. Mas, de uns anos pra cá, esse orgulho deu lugar à vergonha, frustração e indignação — muito por conta do cenário político e econômico que parece só piorar.

Depois de refletir (e desabafar com algumas amigas), decidi acolher esse conflito interno e escrever algo que, quem sabe, possa contribuir. Ser colunista é isso: provocar, despertar reflexões — boas ou difíceis.

O que é ser brasileira pra você? Fiz essa pergunta nos meus stories e recebi respostas como:

– Ser resiliente.

– Ter uma força interior muito grande.

– Nunca desistir, confiar num novo amanhã, ter coragem.

Percebi que não estou sozinha na frustração — e na força. Outras mulheres também vivem esse paradoxo. Parte desse mal-estar tem raízes em desafios estruturais que seguem pesando sobre nós:

– A sobrecarga da jornada dupla ou tripla.

– A desigualdade salarial e a desvalorização profissional.

– A exaustão emocional, ansiedade, culpa e solidão.

– O silenciamento e a invalidação da nossa voz.

– A violência de gênero, que segue alarmante.

– As expectativas contraditórias: fortes, mas não demais; mães, mas sexy; bem-sucedidas, mas modestas…

Como sentir orgulho diante disso tudo? É aqui que me apoio na logoterapia. Frankl nos lembra que é possível encontrar sentido mesmo no sofrimento. Se não posso mudar o cenário, posso mudar minha atitude diante dele.

Ser brasileira, então, é também desenvolver resiliência, coragem e fé. É seguir, apesar de tudo, confiando num novo amanhã. E isso, nós sabemos fazer com maestria.

E, como diria poeticamente minha amiga Juliana, ser mulher brasileira é carregar no peito uma coragem ancestral: segurar a família, reconstruir a própria vida e ainda sonhar alto. É viver com alma quando o mundo pede só sobrevivência. É ser base e ainda cuidar de si. É transformar dor em dança. Somos mistura de mundos e nacionalidades, e é desse encontro que nasce o nosso borogodó único — essa força bonita que só a brasileira tem.

Desejo que você encontre o melhor de si diante das adversidades da vida.

Priscila Vogt é psicóloga clínica especialista em Logoterapia. Natural de Curitiba/PR, atualmente reside em Florianópolis, é amante de praia, sol e natureza. Se apaixonou por ajudar mulheres a encontrarem seu lugar no mundo e resgatarem sua autoconfiança. Hoje atua no On Line, mas também tem consultório na Ilha da Magia. @psipriscillavogt

Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Propósito