Desde cedo, aprendi que não devemos começar um texto com uma pergunta (não sei ao certo onde aprendi isso). Talvez seja por isso que estou hesitante em fazê-lo agora, ou talvez para não ter que me deparar com a própria pergunta. No entanto, coragem, vamos encarar o desafio, caro leitor: como os conceitos atuais de masculinidade afetam as mulheres e como podemos ajudar a mudar essa realidade?
Para começar, é crucial compreender que as mulheres enfrentam uma luta constante em várias esferas da sociedade, começando pelo ambiente doméstico. A divisão de papéis domésticos, por exemplo, acaba desfavorecendo a mulher. Desde a infância, espera-se dos homens uma contribuição mínima, como manter o quarto arrumado ou, no máximo, não atrapalhar quem está limpando, enquanto às mulheres é imposto que se dê conta de todo o ambiente familiar (lavar, passar, cozinhar…). Essa disparidade se estende ao casamento, onde as mulheres são frequentemente responsáveis pela casa, marido e filhos, enquanto o homem é visto como o provedor.
No ambiente organizacional, o problema não é muito diferente quando se trata de papéis de gênero. Existe, infelizmente, uma ideia de que o homem é superior a mulher nas questões trabalhistas, o que acaba trazendo uma desvalorização ao trabalho feminino. Ou seja, menos oportunidades e menos ganhos. Basta observar a discrepância nas premiações dos campeonatos masculino e feminino de futebol – uma diferença absurda que muitas vezes é justificada pela alegada disparidade no alcance dos dois públicos. No entanto, aqui reside outro problema, pois o público majoritariamente masculino muitas vezes menospreza o futebol feminino, como se elas não pudessem estar em campo.
Além dos exemplos citados, há muitos outros pontos que poderíamos destacar nesse texto. Entretanto, é necessário pensar na segunda parte da pergunta: como podemos contribuir para mudar essa realidade? Em primeiro lugar, devemos reconhecer a necessidade dessa luta, nos questionando a todo momento se não estamos fazendo o oposto, atrapalhando. Em seguida, devemos refletir sobre os nossos próprios comportamentos, a fim de não perpetuar a desigualdade vigente. Devemos também combatendo os comportamentos e pensamentos machistas dos outros, além de apoiar as mulheres em suas lutas diárias.
Em resumo, essas são apenas algumas das atitudes que podemos adotar para contribuir com essa luta. É importante lembrar que, embora esse tema seja especialmente relevante durante o mês da mulher, a igualdade de gênero é uma questão fundamental que deve ser enfrentada todos os dias. E, para concluir, permito-me fazer outra pergunta, encerrando como comecei, mas sem rodeios: o seu apoio à igualdade de gênero fará diminuir sua masculinidade?
Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva