Coluna
Barba, cabelo e bigode

por Ronnedy Paiva

Por que devemos falar sobre homens?

Em uma roda de amigos você ouvirá conversas sobre futebol, carros, política, mulheres, trabalho, família, problemas com as contas e o mundo moderno, mas pouco se ouvirá sobre eles. Basta você lembrar: qual foi a última vez que você ouviu um homem falar sobre os seus sentimentos, para os amigos, sem que houvesse qualquer tipo de gozação? 

 

Me recordo de uma palestra sobre sexualidade no meu tempo de Serviço Militar, em determinado momento, quando a palestrante falava sobre IST, nos foi orientado a buscar a ajuda de um amigo para tirar dúvidas e, caso necessário, pedir que ele olhasse o órgão genital para ver se estava normal – após um relacionamento sexual desprotegido e com indícios de transmissão. Ao ouvir isso, era nítido no rosto daqueles jovens o constrangimento em simplesmente pensar nessa possibilidade – “o que ele pensaria de mim? ”

 

A verdade é que a maioria dos homens conseguem falar sobre qualquer coisa, mas tem vergonha, para não dizer medo, de falar sobre as suas próprias vulnerabilidades. “Isso é meu problema! Sou homem e tenho que resolver sozinho.”

Quantas vezes você já ouviu, ou até mesmo disse isso?

 

Esse pensamento é comum entre os homens! Nem sempre fomos ensinados a compartilhar os sentimentos ou sofrimentos com os outros. É um contrassenso dizer que os homens sofrem sozinhos ao invés de pedir ajuda, ainda mais a outro homem, atingindo o cúmulo de perceber a necessidade, mas não tomar qualquer atitude. Chega a ser cômico, mas, muitas vezes, não é o homem quem agenda a primeira sessão de terapia quando precisa, mas a sua mulher em nome dele. É como se ele disse-se: “eu não preciso, lido tranquilamente com isso, mas para não me indispor mais em casa, atenderei ao pedido dela”. Homem não precisa dessas coisas, isso é frescura!

 

 

Vou tomar uma com os amigos e boa… fica até mais barato”. Buscar ajuda para lidar com os “problemas de homem” é quase um atestado de óbito da própria masculinidadePerceba, culturalmente o papel masculino tem tonalidades de virilidade, bom senso, racionalidade, força e persistência. Ele é forjado a trabalhar sem reclamar – “porque no tempo do seu avô, não tinha essa moleza toda”; a não deixar faltar nada em casa – “como assim, você depende da sua mulher para as contas?”; e a sofrer em silêncio – “vê se toma vergonha na cara, para de reclamar e vira homem”. Fugir desse padrão não é fácil, existe muito julgamento no meio masculino e um medo verdadeiro de ser considerado um “homem sem H maiúsculo” por não seguir um ordem estabelecida. “Que isso? Você já é um homenzinho, não pode chorar”.

 

 

O homem ouve muitas coisas sobre a masculinidade que corrompem a sua visão e enrijece o seu comportamento, fazendo-o adoecer. Como ser humano, ao olhar o mundo como um indivíduo livre, responsável e consciente, acaba por não encontrar uma tradição que dê conta de dizer o que ele deve fazer ou um instinto que diga como ele deve ser, assim, caminha sem saber o que é ser homem, comportando-se como todos os outros se comportam – em uma atitude coletivista, ou agindo como os outros dizem que ele deve agir – em uma atitude totalitarista. “Precisamos falar sobre masculinidade!” Diante do que foi exposto, entende-se que falar sobre o homem, sua masculinidade e existência, é demasiadamente necessário para o seu próprio desenvolvimento.

 

 

Assim, com o propósito de discutir sobre o universo masculino, seus paradigmas e tabus, buscando uma forma mais autêntica de ser homem, é que a coluna “Barba, Cabelo &  Bigode” ganha existência. Aqui, em semelhança a uma barbearia, onde busca-se uma estética física, iremos – e isso é um convite – em busca de uma estética existencial.

Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva

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