Coluna
Trabalho em si e por si

por Flávia Costa

O mercado não precisa apenas de mulheres, mas do feminino

Fale firme, não use roupas, acessórios e maquiagens que possam chamar a atenção, isso pode soar como futilidade, ou que você quer validação. Não deixem saber que você está menstruada, e também não demonstre irritação, porque será visto como sintoma de “TPM”. Ah, você também não deve chorar, ou expor demais as suas emoções, você pode ser vista como fraca e inapta para uma função. Não sorria muito, vai parecer que está se insinuando para os homens do local. Seja uma porta, enrijecida e com trancas, ou reproduza os comportamentos dos homens do local, sem que os afete negativamente. 


Em resumo, seja o pior, mas não seja uma mulher que expresse seu feminino, aparentemente, é mais fácil de lidar com conflitos de falta de respeito, comunicação e posicionamento, do que com a figura feminina, e reconhecer o seu direito e a necessidade de tê-la ali. Não pelo seu sexo, ou gênero, mas o que representa ser o feminino. Esses são alguns exemplos de referências que mulheres, desde seu primeiro contato com mercado de trabalho, escutam sobre como se portar para serem respeitadas, reconhecidas e ascenderem em suas carreiras, e até mesmo, estarem seguras fisicamente e emocionalmente. Essa fórmula costuma dar certo, enquanto você estiver no trabalho, agora, da porta para fora, existe um conflito de identidade, principalmente, se as questões abordadas anteriormente forem realmente importantes para a maneira da mulher expressar sua forma de existir, assim como existem mulheres que no primeiro momento não entendem este movimento como prejudicial no trabalho, mas em outras áreas da vida, principalmente na família, não conseguem se expressar sem agressividade, e estão constantemente estressadas. 


Ao falarmos de trabalho não há como fugirmos da motivação, e o que consigo observar através da minha atuação como psicóloga ao longo dos anos, é que mulheres em ambientes e profissões onde predominam o público masculino, que não sabem lidar com esta expressão do feminino, começam a produzir menos, ficam pouco tempo no emprego, ou apresentam questões comportamentais de desempenho ligados a essa forma de se posicionar, principalmente em posições de liderança.


Seja nas empresas, instituições ou no empreendedorismo, não basta o preenchimento de posições por sexo e gênero para haver representatividade, é preciso que as mulheres tenham aval para serem diferentes dos homens, sem que isso as prejudique. Como fazer para mudar esse jogo? Para as mulheres, acredito ser um trabalho minucioso. É preciso, aos poucos, “empilhar resultados”, demonstrando como sua forma de se comportar vem gerando impactos positivos, seja para o cliente, liderados, metas, ou convívio em equipe. Quanto mais estratégia, mais credibilidade você passa. Consiga depoimentos, formulários e outros com relatos destacando suas característica e forma de conduzir o processo. 


A autenticidade também é o principal alicerce para a influência, e nesse caso, o processo de autoconhecimento é fundamental para você se sentir segura sobre si mesma. Saiba o que é importante para você e o porquê, o que te incomoda, o que te desafia e o que potencializa, o processo de psicoterapia é fundamental para reconhecer esses pontos e trabalhar para coloca-los em prática. Aos homens, é um convite que deve se estender ainda por alguns anos, onde devem refletir sobre como foi o seu processo de percepção e conhecimento sobre o feminino e a representatividade da mulher ao longo de sua trajetória de vida. Sabemos que existe uma falha grave na educação do caráter masculino, em algumas culturas, colocando a mulher com funcionalidades específicas, geralmente, ligadas apenas a satisfação do homem. Reforçar este recorte no imaginário por anos, é só um dos muitos malefícios que impede o reconhecimento da mulher como um membro capacitado para contribuir no trabalho, na casa, na sociedade, e onde ela e suas condições emocionais e físicas compreenderem e realizarem que é um local ideal de se ocupar. 


Um exercício prático: consuma produtos, conteúdos e serviços de mulheres que abordem seus temas de interesse. Conheça as mulheres que estão sua casa, e principalmente, nos relacionamentos. Tenha interesse genuíno no que elas são, e não apenas o que podem te oferecer. Sabendo o que se passou, podemos compreender a realidade atual, e contribuir positivamente, afinal, nesta missão, o trabalho precisa ser conjunto.

Flávia Costa é psicóloga clínica, logoterapeuta em formação e mentora de carreiras. Natural do Rio de Janeiro, tem como missão disseminar a aplicabilidade da Psicologia no dia a dia. @flaviacpsi

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