Que alegria estrear minha coluna na revista Propósito com meu tema mais estudado: a autenticidade no amor. Nos últimos anos, tanto no consultório quanto em minha vida, ficou claro que o maior desafio dos relacionamentos é a dificuldade de comunicação.

Apesar de falarmos o tempo todo – com parceiros, filhos, amigos, com o caixa do mercado e até com nossos pets – muitas vezes atuamos no “piloto automático”, fazendo o mínimo para evitar desgaste, mas perdendo a chance de realmente nos compreender. Essa postura nos leva a oscilar entre atacar e nos defender, sem espaço para vulnerabilidade ou escuta verdadeira, o que cria um jogo emocional onde desejamos proximidade, mas tememos nos machucar.

É desse modo que surge a comunicação inautêntica – a forma mais limitante possível de se comunicar. Mas se a fala está presente no nosso dia a dia, onde, de fato, está a raiz desse problema? Inspirada pelo livro Logoterapia e Análise Existencial para Casais, de Alejandro Paredes, compreendi que transformar essa dinâmica passa pela prática consciente de quatro pilares essenciais: dizer, pedir, perguntar e ouvir. Dizer inclui expressar a própria verdade, compartilhando sentimentos, medos e inseguranças sem imposições, permitindo que o outro compreenda nossa essência.

Pedir é ter a coragem de manifestar nossos desejos e necessidades, sem esperar que o parceiro seja um adivinho, cultivando clareza e honestidade. Perguntar reconhece que somente o próprio outro pode revelar seus sentimentos e experiências; ao fazer perguntas sinceras, evitamos suposições e julgamentos que afastam e minam o diálogo. Ouvir vai além de escutar palavras – é acolher a mensagem do outro com empatia, abrindo espaço para que ambos se expressem sem interrupções, transformando monólogos em um verdadeiro encontro de almas.

Sem a prática desses pilares, a comunicação se torna inautêntica. Sem autenticidade, não há encontro. Sem encontro, não há relação. Enquanto escrevo, parece que começo a responder a minha pergunta inicial. A raiz do problema pode estar no encontro. Ou melhor, na falta dele. O encontro verdadeiro com o outro é um dos caminhos mais profundos para se ter sentido na vida. É na autotranscendência—quando saímos de nós mesmos para nos voltar genuinamente ao outro—que nos realizamos de forma autêntica.

Relacionar-se não é apenas compartilhar a vida, mas reconhecer no outro um ser único e insubstituível, permitindo-se ser visto e compreendido sem máscaras. A comunicação autentica é a ponte real entre o “eu” e o “tu”, rompendo com suposições e medos, e é nesse espaço de verdade que os relacionamentos florescem, ganham significado e o encontro acontece.