Ontem fui ao casamento de uma amiga muito querida, daquelas que a vida me deu longe de casa. A gente se conheceu no Egito, durante um período de voluntariado, e a conexão foi imediata. Dividimos trabalho, conversas profundas, momentos de exaustão e, pra equilibrar tudo isso, um bom forró no fim do dia de serviço. Dançar era a nossa forma de descarregar o peso e celebrar a vida. Era riso, respiro e aconchego em forma de música.
Essa amizade não ficou no Egito. Quando voltamos ao Brasil, mantivemos com carinho esse presente que a vida nos deu: a nossa relação. Por ironia boa do destino, nos mudamos para Campinas no mesmo dia, sem saber, sem planejar, como quem é puxado pela mesma música e mesmo com rotinas diferentes, seguimos próximas. Ontem, no casamento dela, depois da cerimônia linda e da pista animada, nos encontramos de novo naquela dança que sempre foi nosso lugar seguro. E enquanto girávamos no salão, falamos sobre a beleza do casamento, as expectativas para a Lua de Mel e o quanto tudo aquilo fazia sentido.
O mais curioso é que essa história de amor também começou com uma dança. Literalmente. Há dois anos, fui a um forró e dancei com um cara legal. No meio da música, pensei: “ele precisa dançar com a minha amiga”. Apresentei os dois, e o resto virou história daquelas que se escreve com cumplicidade, paciência e muito ritmo.
A dança os conectou de início, mas o que veio depois foi muito além. Eles começaram a trabalhar juntos, se acompanharam em processos pessoais e espirituais profundos, e criaram uma conexão que não dependia mais da música, mas da escuta, do cuidado, da vontade de crescer um com o outro e de muitas bênçãos do céu. A dança foi só a porta de entrada, o que eles construíram juntos foi casa, foi caminho.
Fiquei pensando como o amor, no Brasil, tem mesmo essa cara de pista de dança: caloroso, espontâneo, meio bagunçado, mas cheio de presença. Um amor que dança forró, samba, pagode. Que se embanana nos passos e dá risada. Que pisa no pé e pede desculpa com um beijo. Um amor que não é coreografado, mas sentido.
Porque dançar forró é assim: não tem passo certo, tem presença. Tem que ouvir o outro com o corpo, perceber o tempo de cada um. Às vezes um guia, às vezes o outro. Às vezes os dois se embananam e riem juntos. Às vezes se afastam, erram o ritmo e voltam no compasso.
Talvez amar seja parecido com isso. E que sorte a nossa viver num país onde o amor dança com a gente. Onde as relações se desenham no improviso, na escuta, no corpo junto. Onde temos ritmos tão vivos, tão quentes, tão nossos que nos ajudam a aprender, sem perceber, como é que se dança junto. O Brasil é assim. E ainda bem que é.
Enquanto eu dançava com minha amiga ontem, pensei: que sorte é poder continuar dançando com quem atravessa a vida com a gente. Mesmo quando o mundo lá fora parece descompassado. Amar, à moda brasileira, talvez seja isso: corpo junto, coração quente, um pouco de improviso e muita ginga pra continuar no baile.
Camila Moyano é psicóloga clínica, logoterapeuta, atende adultos e casais. Pós-graduanda em Logoterapia e Saúde da Família. Natural de São Paulo capital, gosta de boas leituras, cafés e viagens, Cria conteúdo na internet sobre relacionamentos saudáveis, comunicação autêntica e estilo de vida sempre com a intenção de simplificar e tornar a psicoeducação possível. @acamilamoyano