Coluna
Viagem na babagem

por Camila Aagesen

“I’m from Brasil"

Por um ano eu viajei dentro do Brasil, de ônibus, o que significa que eu vi 7% do país, se tanto. Brincadeiras à parte eu acho que a gente está muito acostumado a falar que “o Brasil é muito grande”, mas não sei se temos noção de quanto grande é. Não só de extensão territorial, mas de culturas, costumes, leis locais, moedas, valores, dialetos e etc.

Dependendo de onde você é e pra onde você vai, parece outro país de tão diferente. Para meus amigos europeus eu dou o exemplo simples de que um italiano é parecido com um alemão pois os dois são europeus, e rapidamente eu ouço um “imagina! Completamente diferente”. Claro que é uma brincadeira, mas que fica fácil de entender que apesar de todos termos o mesmo hino nacional e torcermos pro mesmo time na Copa do Mundo, somos muito diferentes, diferentes não, diversos.

Poderíamos passar uma vida conhecendo lugares sem sair do país, sem nos indispor com aprender outra língua ou precisar de visto.

Quer praias paradisíacas de água morna? Não precisa ir pro Caribe não, tem aqui.

Frio de serras e montanhas? Tem aqui

Quer vinícolas? Tem aqui

Quer passear de balão, trilhas, peregrinação, quer andar em dunas desérticas? Florestas, áreas de pântano, cidades gigantescas, cidades de festa internacionais, hubs de tecnologia a inovação…

Eu poderia escrever mais 10 páginas de tudo que tem aqui e não precisaríamos nunca nem querer sair do país.

Mas e quando a gente vai pra fora do Brasil?

Ser brasileira sempre me abriu portas, mais que isso, sempre me abriu sorrisos. Não consigo lembrar de nenhuma situação em que eu falasse que era do Brasil e a pessoa não mudasse a expressão imediatamente para um sorriso.

Sim, a gente responde 500 vezes que conhece o Pelé, o Ronaldo, o Neymar, a gente responde se sabe sambar ou não, se joga futebol ou não, às vezes – cada vez menos – a gente responde que nossa língua não é o Espanhol, nem o brasileiro. Infelizmente, às vezes ouvimos comentários machistas sobre nosso corpo ou sobre “as brasileiras”. Mas no geral, todo mundo gosta dos brasileiros, nossa nacionalidade é associada a alegria, festa, sol, esportes e mais um monte de sentimentos bons que fazem as pessoas gostarem da gente de graça.

Sendo brasileira em grupo de nômades internacionais, eu descobri que nunca vou ser igual a eles – os nômades do norte do mundo – pois eu venho de um lugar completamente diferente, minhas experiencias de vida são completamente diferentes, meu aprendizado, meus medos, meus pontos fortes e fracos, são completamente diferentes e que isso é bom, que é um super poder.

A gente é desenrolado, sabe chegar nos lugares e falar com quem precisar ou quiser, a gente tem uma alma quente, somos animados, calorosos e muito versáteis. E não tô falando de personalidades individuais não, eu sei que aqui temos umas pessoas mais fechadas, mais quietas, outras, mais extrovertidas e barulhentas. Mas, na minha experiência, até a pessoa mais fechada e quieta, tem a nossa alma solar.

E quando se juntam os brasileiros? Parece uma grande reunião de primos na casa da vó, só que em qualquer lugar do mundo. É como encontrar alguém que te entende, entende o perrengue que é ser sempre o diferente.

Eu já fui a brasileira que ficava feliz quando alguém falava “nossa, você não parece Brasileira” – tenho vergonha de admitir, mas é verdade. Hoje, na verdade, o que eu sinto é um pouco de vergonha alheia de quem fala isso, pelo atestado de ignorância.

Quem tem cara de brasileiro?

Brasileiro não tem cara, tem alma, tem gingado, tem ritmo. E não, não tem a ver com andar dançando ou sendo espalhafatoso (que se for também, tá tudo bem), mas tem a ver com chegar nos lugares com o nosso borogodó sem se esconder ou apequenar, sem querer parecer as pessoas que a gente não é nem nunca vai ser – mesmo que seu bisavô e bisavó tenham vindo da Itália e você se ache “o puro sangue italiano”, você não é cachorro pra ser puro sangue, mesmo com a síndrome de vira-lata.

Camila Aagesen é viajante profissional, se encontrou na escrita e comunicação, virou contadora de histórias, gosta mais de frio do que de calor, apesar de adorar (curtas) temporadas em ilhas quentes. Com a alma aventureira se desfez de sua base em São Paulo capital em 2018 para conhecer lugares e histórias. @camilanomade

Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Propósito