Coluna
Trabalho em si e por si

por Flávia Costa

Do encontro de sentido a inimigo da saúde. Onde está o erro no trabalho?

O mundo do trabalho passou por mudanças significativas nos últimos anos: Home office, diversificação na carga horária, entrada e saída de gerações, novos valores, novas tecnologias e skills. Contudo, todo esse movimento veio acompanhado não apenas de críticas, mas danos à saúde, tanto no campo físico, como mental, e, mesmo que pouco sinalizado, o espiritual. A busca pela compreensão deste fenômeno parte de diferentes linhas de conhcecimento: economia e recortes socioeconômicos, cultura local, cultura organizacional, e outros relacionados ao ambiente que estamos inseridos. Hoje vamos olhar para além das condições externas, mas para nossa potencialidade de agirmos e nos responsabilizarmos nas situações de desafio e sofrimento que o trabalho pode nos originar. Eles se esbarram, mas não podemos esquecer que Trabalho e Emprego são atividades distintas.

Trabalho é toda atividade que você se propõe a fazer, ligado a objetivos e realizações profissionais e pessoais. Por exemplo, estudar, ir a academia e demais projetos pessoais também podem ser considerados um trabalho, por ter uma finalidade, objetivo, e sequência de atividades que o constituem. Já o emprego, é quando o trabalho é recompensado com uma remuneração, voltado para nossa subsistência. Saber desta diferença, nos mostra que, independente de estarmos em um emprego, a nossa existência é um eterno trabalho.

Saber disso, é fundamental para estarmos conscientes da responsabilidade que ambas circunstâncias nos exigem, além de chegarmos ao ponto mais importante: não somos definidos como produto do nosso emprego, porque, quando não estamos nele, ainda há muito pelo que trabalhar. Um dos primeiros sinais do adoecimento psicológico em decorrência do emprego, é atribuir o seu valor ao nível de produtividade, entregas e validações de projetos. Consequentemente, a pessoa exclui cuidados com outras áreas da vida, resultando em uma desordem no âmbito pessoal, gerando ainda mais sofrimento, estresse, e ansiedade, o que conhecemos hoje como “BURNOUT” .

Trazer estes pontos, não exime a responsabilidade do ambiente de trabalho em causar adoecimento, pelo contrário: a pessoa que já está com sua percepção de valor alinhada ao que descrevi acima, dificilmente enxerga, inclusive, que o ambiente possa ser o causador. Com o olhar adoecido, reduzimos tanto nossa potencialidade enquanto pessoas, por restringirmos nossa experiência com relacionamentos, propósitos, família e saúde, como a potencialidade que o emprego nos dá em desenvolvermos novas habilidades, que, inclusive, auxiliam no âmbito pessoal. O Erro não está apenas em não saber diferenciar o que é trabalho e emprego, mas em não saber se reconhecer enquanto uma pessoa que tem um chamado para diferentes áreas da vida. Pera lá, nem tudo está perdido! Pelo contrário, o encontro do sentido pode estar mais próximo do que se pensa.

Se você se identificou com o que acabou de ler, este é um convite para repensar suas escolhas e prioridades. Tire um momento para pensar em sua vida além do trabalho, suas relações, desejos e hobbies. Cada um deles esperam algo que, apenas você, por ser exatamente quem é, no papel que ocupa, pode entregar, e talvez, aqui seja a possibilidade de valor que você tanta almeja alcançar.

 

Flávia Costa é psicóloga clínica, logoterapeuta em formação e mentora de carreiras. Natural do Rio de Janeiro, tem como missão disseminar a aplicabilidade da Psicologia no dia a dia. @flaviacpsi

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