Coluna
Trabalho em si e por si

por Flávia Costa

Desenvolvimento de lideranças negras no mercado de trabalho brasileiro: da inclusão à capacitação

Nos últimos anos a demanda de “Diversidade e Inclusão” tomou conta do mercado de trabalho, em especial, do ambiente corporativo. Este movimento tem como objetivo tornar o ambiente e oportunidades de trabalho acessíveis a todos os recortes de gênero, sexualidade, deficiência, gerações, estéticas e raças, considerando necessidades específicas de um país, localidade, e seu desenvolvimento sócio-histórico. Hoje pensaremos sobre o contexto racial brasileiro, em especial, de pessoas negras e sua atuação no mercado de trabalho.

 

Considerando o desenvolvimento do trabalho na história do Brasil, seria correto afirmar que negros precisam ser apenas incluídos? Ou, de fato, reconhecidos profissionais? Antes dos critérios de regulamentação profissional, trabalho digno, pessoas negras já estavam envolvidas em atividades e trabalhos que ofertassem dinheiro e sua subsistência, no entanto, poucos tinham acesso à educação, cultura e perspectiva de desenvolvimento de profissional, consolidando-se em cargos operacionais e de baixa escolaridade. Aqui, perpetuou-se um cenário em que pessoas negras são inseridas, mas sem recursos para se desenvolverem.

 

Após anos de políticas públicas, letramento racial social e profissional, pessoas negras tiveram mais acesso e possibilidades de concluir suas escolaridades, agora, estando capacitadas academicamente para assumirem cargos com maiores qualificações, no entanto, esbarrando em um novo impeditivo: o racismo estrutural, aquele que, resultante da herança discriminatória da escravidão, de forma velada, nos faz disseminar e alimentar a crença da inferioridade negra, sejam os indivíduos, ou sua cultura.

 

No mercado de trabalho, isso se evidencia quando candidatos negros qualificados não são cogitados a serem avaliados em processos seletivos, principalmente, aqueles que envolvem liderança, quando empreendedores negros tem suas conquistas desqualificadas, ou não são reconhecidos como tal, pela cor de sua pele. Ao falarmos sobre racismo estrutural é necessário que além da compreensão de causalidade, haja trabalho para ser combatido, e é notável o que empresas tem se proposto, através de programas Treinees para negros, vagas direcionadas para pessoas negras, treinamentos e modificação de cultura empresarial.

 

No entanto, considerando o ambiente corporativo, é necessário que todos os componentes estejam conscientes da possibilidade de vieses, preconceitos, e por isso, buscarem seu desenvolvimento individualmente, através de leituras, vivências, e trocas com pessoas negras. É preciso não apenas reconhecer esta demanda, mas enxerga-la como um problema, validando, acolhendo e reconhecendo que apesar dos feitos atuais, é apenas o início de uma mudança cultural e perceptiva de todos os seres humanos influenciados pelo racismo em seu desenvolvimento social e pessoal. Quanto ao empreendedorismo negro, cabe não apenas a reflexão e ações propostas acima, mas consumir seus produtos, conhecimentos e valores.

 

Afinal, o surgimento de um empreendimento é o recorte de uma história pessoal. É preciso que estas pessoas não sejam conhecidas apenas como profissionais, mas líderes, sejam de processos, pessoas, ou das próprias vidas. É necessário serem percebidas pelo que são: pessoas capacitadas e ainda assim, humanas, dignas, e com potencialidade de desenvolver a si e quem os acompanharem.

 

Apenas conquistando seus espaços, e uma busca por equidade conjunta, possibilitamos não apenas inclusões, desenvolvimentos, mas representatividade e referência, para que crianças, adolescentes e até mesmo adultos consigam perceber, visualizar, sonhar, buscar e concretizar seus objetivos profissionais. Não apenas engajando com sua motivação, mas por saberem que serão aceitas, avaliadas e desenvolvidas através do seu desempenho.

 

“A educação como prática da liberdade é um jeito de ensinar que qualquer um pode aprender”. – Bell Hooks (1952-2021)

 

Flávia Costa é psicóloga clínica, logoterapeuta em formação e mentora de carreiras. Natural do Rio de Janeiro, tem como missão disseminar a aplicabilidade da Psicologia no dia a dia. @flaviacpsi

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