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Arte e espiritualidade

Lorena Bandeira

Em 1922, aconteceu em São Paulo, a Semana de Arte Moderna. Grandes nomes como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Villa-Lobos estiveram presentes. O objetivo do evento era valorizar a cultura nacional e sua produção artística. Dando um salto para a década de 1970, um importante movimento
artístico e cultural no Nordeste, chamado Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna e tendo como nomes os irmãos Brennand, Antonio Madureira, Lourdes Magalhães, objetivava valorização da cultura e arte
nordestina. Ambos os movimentos, marcantes em nosso país, refletem como a arte se entrelaça com a existência e atua como um espaço de concretização do transcendente.

 

Em busca da história

 

Historicamente, inúmeras manifestações e movimentos artísticos podem nos ajudar a pensar sobre a existência humana.

As pirâmides do Egito, igrejas construídas durante a Idade Média, além de estrutura arquitetônicas, também eram espaços de relação com o divino. Movimentos como Renascimento, Expressionismo e Surrealismo nos ajudam a refletir sobre a existência e essência humana, cada um à sua maneira. O Romantismo também é um outro movimento que nos auxilia a pensar sobre a existência humana.

 

 

Em busca de conceitos

 

É preciso explorar, também, o conceito sobre arte. Ele se modifica ao longo do tempo, sobretudo a considerar a relação que o ser humano estabelece com ela. A arte, segundo o dicionário Houaiss, significa uma “Produção consciente de obras, formas ou objetos, voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana”. No entanto, ao longo das mudanças dos períodos artísticos, essa definição de um ideal de beleza é menos usada.

Auguste Rodin, escultor francês, nos parece dar uma melhor definição sobre arte, ao dizer que ela “é a contemplação; é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que a natureza também tem alma.” Ligia Clark, pintora e escultora brasileira pode complementar, trazendo a relação entre arte e existência, aos dizer que “A arte não consiste mais em um objeto para você olhar, achar bonito, mas para uma preparação para a vida.”

 

 

Em busca de explicações

 

Quando experimentamos uma obra de arte que nos toca profundamente, nosso cérebro ativa uma rede complexa de áreas responsáveis pela emoção, memória e interpretação. Estudos em neurociência mostram que observar arte pode estimular o sistema de recompensa cerebral, aumentando a liberação de dopamina — o que explica a sensação de prazer e inspiração.

 

 

Transcendendo as explicações

 

Além disso, a arte que provoca reflexões existenciais pode ativar o córtex pré-frontal, uma região associada à tomada de decisões e à introspecção. Isso sugere que, quando confrontados com obras que desafiam nossa percepção do mundo, engajamos mecanismos cognitivos que nos ajudam a processar questões de significado e identidade.


A arte pode ser representada em várias expressões como música, cinema, teatro, dança, literatura, escultura, pintura, fotografia, histórias em quadrinhos, dentre outras e que podem contribuir tanto para os que produzem, quanto os que apreciam, a promoção de autoconhecimento, reconhecimento de valores, encontro de sentido.
Culturalmente, a arte preserva memórias e tradições, enquanto espiritualmente, inspira sentimentos de transcendência e conexão com algo maior.

 

A arte é uma fonte inesgotável de benefícios, impactando tanto os indivíduos quanto a
sociedade. Em nível pessoal, ela oferece uma poderosa ferramenta de expressão emocional, ajudando a processar sentimentos complexos e a aliviar o estresse. A participação em atividades artísticas, como pintura ou música, também melhora a saúde mental, estimula a criatividade e promove o autoconhecimento.

No âmbito educacional, a arte desenvolve habilidades motoras e cognitivas, como a memória e o pensamento crítico, ao mesmo tempo que conecta disciplinas diversas, como história e psicologia. Socialmente, ela fortalece
comunidades ao promover inclusão e reflexão. Murais, grafites e performances públicas são exemplos de como a arte pode dar voz a grupos marginalizados e fomentar a mudança social.

 

Para os artistas, o ato de criar muitas vezes transcende a mera expressão pessoal; ele se torna um meio de impactar o coletivo. Muitos artistas encontram propósito na capacidade de catalisar reflexões e transformações sociais.

A arte é um dos instrumentos mais poderosos para explorar a existência e encontrar propósito. Ela nos
conecta àquilo que é invisível, estimula reflexões profundas e nos lembra de que, mesmo diante do absurdo, há beleza e significado na condição humana. Em sua capacidade de transcender o tempo e o espaço, a arte continua a ser uma das expressões mais puras da busca humana por sentido.