É um clichezão falar isso e depois perguntar “será que não?”. Risos
Mas vou perguntar e responder: Não. 90% das vezes a resposta vai ser não, pelo mesmo motivo que quando você tá de férias na praia e fala “eu poderia morar aqui”, você não muda de verdade pra lá.
Veja, não estou dizendo que o sentimento ou a vontade não eram reais, mas quando a realidade bate na porta a gente muda, adapta, guarda numa caixinha de memórias afetivas boas.
Viajar trás uma visão tão boa e única pra gente em tantas áreas da vida, e no amor – que é o tema dessa semana – não seria diferente.
Quem não conhece pelo menos uma pessoa que viveu um caso de amor digno de novela em alguma viagem ou férias. Aquele romance que a pessoa conta com detalhes por anos que se seguem, e lembra com carinho.
Quando estamos viajando estamos longe de todo mundo que a gente conhece, inclusive da nossa versão que a gente conhece. Fica mais fácil a gente se soltar um pouquinho – e às vezes não tão pouquinho assim – das “amarras sociais” né?
E ai é fácil virar um filme de romance:
Você não tem que trabalhar, não tem compromissos, está num lugar lindo, comendo bem, sem dieta, bebendo o que quiser e encontra um outro fazendo a mesma coisa – ou um outro morador dali.
Se o apaixonamento vem da gente ver no outro o que gostaríamos de ser, naquela hora viramos um personagem perfeito para essa história de amor. E voltamos pra casa jurando que era amor de verdade e teríamos chances de ficar juntos pra sempre.
Outra clássica de viagem é a conversa de “quer saber se é o homem/mulher certo pra você? Viajem juntos! Passem 24 horas por dia juntos e vejam se se aguentam”.
Essa também é conhecida né? Eu mesma resolvi casar com meu ex-marido depois de uma longa viagem de 40 dias em que “sobrevivemos”, todos diziam que o teste tinha sido feito e passamos, podíamos casar!
Muitos casais que estão juntos há anos usam as escapadas de viagem para reacender a chama ou manter a chama do romance, fugindo por alguns dias da vida corrida de adultos.
O amor e as viagens estão em filmes, livros, músicas. São perfeitos juntos.
E faltou eu falar de um amor com viagem que é um pouco controverso.
O “amor – próprio” de quando você decide viajar sozinho(a).
Todas as outras opções se encontram nessa: começa por um encantamento, uma excitação numa versão sua que nunca existiu. Você tem coragem de fazer coisas sozinha(o) e isso aumenta sua autoestima, você conhece lugares novos, pessoas novas, você é uma versão sua que nunca conheceu e é maravilhoso! É a própria personagem da Julia Roberts em “Comer, amar e rezar”. Você volta pra casa dizendo que encontrou seu verdadeiro eu, redescobriu os prazeres da vida e vai mudar tudo.
E ai vem a parte dois, quando você viajar sozinho(a) tem que aprender muito sobre você mesmo, tem que se aguentar, ficar com seus próprios pensamentos, descobrir o que gosta de fazer sozinho ou não. E essa parte é transformadora. Da mesma forma que usamos isso pra testar um parceiro, acabamos testando nós mesmos, e ai vem aquele autoconhecimento que vira aprendizado – e post no Instagram.
E então vem as escapadas pra manter a chama do amor próprio viva. Mesmo que você tenha companhias pra viajar, amigos, famíliares, parceiros, quando você aprende a viajar sozinha, sempre vai querer ter essa experiência de novo, pra se lembrar de como é você por você e só. Do que é importante, de como você descansa, se diverte, come, sem o outro ou outros na sua vida.
E essa é uma parte complicada para alguns casais ou famílias, pois somos ensinados que o outro completa a gente e vira o nosso tudo, que fazemos tudo juntos, e não precisa ser assim né? Estar sozinha (o), viajar sozinha(o) reforça o amor. O nosso pela gente mesmo. E o nosso como família que agrega, que se respeita, que se ama e deixa viver.
Camila Aagesen é viajante profissional, se encontrou na escrita e comunicação, virou contadora de histórias, gosta mais de frio do que de calor, apesar de adorar (curtas) temporadas em ilhas quentes. Com a alma aventureira se desfez de sua base em São Paulo capital em 2018 para conhecer lugares e histórias. @camilanomade