Adriana Rocha
Era um dia desses de véspera de fim de ano, estava de recesso, cansada demais e pensando: o que estou fazendo com minha vida, qual o sentido de tudo isso? Foi nessa hora que a movimentação na casinha dos passarinhos chamou minha atenção.
Ali estava o passarinho fêmea entrando e saindo apressadamente para pousar na jabuticabeira no quintal. Eu não entendi porque ela repetia isso tantas vezes, achando interessante o que acontecia me esqueci de meus devaneios interiores. Então meu pai chegou, me viu olhando intrigada para os pássaros e disse: ela está fazendo o filhote sair pro primeiro voo e o que a princípio parecia sem sentido eu descobri o sentido.
O questionamento sobre o sentido da vida passa na mente de todo ser humano de alguma forma e em algum momento. Opiniões sobre o sentido da vida podem por si próprias se distinguir de pessoa por pessoa, bem como também pode variar no decorrer da vida de cada humano.
Você já se perguntou qual o sentido da vida?
Quando o ano acaba, vem uma sensação de alívio. Ufa, mais uma etapa foi cumprida! Mas, bate a ansiedade do que está por vir. O que me espera? Pesa-se o que deu e o que não deu certo. Lembra-se do que ainda não se conquistou… É fato. Em todos os dias podemos ser convidados a refletir, mas é no dia trinta e um de dezembro e um de janeiro que mais se reflete e fala sobre o sentido da vida – pois é geralmente quando mudamos a rotina, nas mídias sociais se fala sobre a retrospectiva do ano que se finda, muitos pausam o trabalho, alguns viajam para ver família e amigos. Quando a retrospectiva pessoal foi cheia de conquistas, e se tem um próximo ano com vários objetivos para além de traçados já em andamento, a sensação é positiva, se tem a sensação de dever cumprido e de empolgação ao que chega.
Mas caso tenha sido uma retrospectiva de um ano de reviravoltas negativas, de mais um ano de frustração, então se vivencia esse período com desesperança, por se verem vivendo sempre a mesma coisa e é aí que muitos acabam se perguntando: mas afinal, qual o sentido de tudo isso?
Inúmeras tentativas de se responder a essa pergunta, desde a filosofia, passando pelo humor e chegando até as religiões.
Para a filosofia da Idade Média o sentido da vida consiste na aquisição da felicidade, felicidade essa que era relativa para cada pessoa, já a filosofia estóica diz que quem for livre de emoções, desejos e paixões, vivendo em um estado de indiferença e apatia terá encontrado a felicidade, o sentido da vida. Isso faz sentido pra você? Já o filósofo Montaigne descreve quatro áreas que precisam ser exploradas para uma vida com sentido: conhecimento de si, solidão, prazer e meditação sobre a morte. Não é nos outros, nas vozes externas, que o sentido se esconde, mas na voz interior, no entretenimento consigo mesmo.
Em 1921 Viktor Emil Frankl, um psiquiatra e neurologista de Viena ministrou sua primeira palestra sobre: Sentido da Vida – tema principal de estudos e escritos desse também filósofo. Para Frankl o sentido da vida é a própria vida e na linguagem popular o sentido da vida é viver, e viver é ser responsável, ter a habilidade de responder as perguntas que a vida faz a cada um de nós. Para além da filosofia, temos a cultura popular que utilizando do humor tenta trazer, contribuir com respostas.
Começo a rir ao me lembrar de um episódio de Os Simpsons, no final do episódio “Homer, o Herege”, o próprio Deus em pessoa fala a Homer qual é o sentido da vida, mas a conversa é interrompida pelos créditos. Me recordo que nos livros da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, o sentido da vida é 42, por esta ser a resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais (que foi obtida após um período de sete milhões e meio de anos de processamento de um supercomputador gigante chamado Pensador Profundo, que havia sido construído por uma raça de seres hiperinteligentes). Em Monty Python’s The Meaning of Life: nesta comédia, sugere-se que não há significado para a vida.
O Alquimista e o filme City Slickers apresentam o assunto de maneira similar: o significado da vida é uma jornada individual para encontrar o “caminho” de cada um. Neste contexto, o “caminho”, similar ao que é definido no budismo como “4ª verdade nobre”, é mais bem explicado simplesmente como o modo que a pessoa escolhe conduzir a sua vida.
Pensando então em religiões, no budismo o sentido da vida consiste em atingir a felicidade absoluta – que não depende de fatores externos para existir. Dentro do hinduísmo, existem conceitos variados para o sentido da vida. Para muitos, significa uma vida após o tradicional “quatro objetivos da vida”, isto é, (poder, desejo, harmonia moral e o objetivo final de libertação). Para outros significa elevação à “consciência cósmica” no brâmane. E por último (dentro do hinduísmo) a libertação é o estado central e significa comunhão eterna e paz com Deus.
O sentido da vida no Judaísmo consiste na observância das leis divinas, na reverência perante a Deus e sua vontade. Já no Cristianismo baseia-se na comunhão com Deus na vida, bem como após a morte. No livro de referência, a Bíblia, é descrito que Deus criou a raça humana com uma necessidade espiritual, o desejo de encontrar o sentido da vida. Alguns minutos depois novamente sou interrompida no pensamento para presenciar o que vem a se tornar a minha definição de sentido da vida, o filhote passarinho sai voando e me responde que afinal o sentido da vida é a própria vida.
E assim com esse pensamento, me levanto e vou me arrumar para mais uma “virada de ano”, sigo na jornada de diariamente descobrir o sentido do dia, da semana, do mês…
Que 2024 seja um ano de muito sentido em sua vida, vivenciado de forma única e irrepetível assim como você.