Vivemos em um mundo permeado pela cultura pop em todas as instâncias, desde os mais populares filmes de herói, que fazem bilhões em bilheteria, até obras mais obscuras que, de alguma forma, influenciam o pensamento na atualidade.
Mas o que realmente é a cultura pop?
De forma resumida, a cultura pop é definida como mídia de massa e entretenimento, mas o termo é frequentemente usado ao se referir às chamadas “nerdices da vida”, como filmes, séries, música, livros, jogos, animes e quadrinhos em geral. Essas mídias, que antes eram vistas como infantis, hoje compõem a cultura mundial e movimentam bilhões, conquistando espaço não apenas como expressão cultural, mas também como influência direta na produção cultural.
Uma explicação simples para o fenômeno do universo infantil se tornando relevante na construção humana contemporânea advém do próprio capital movimentado: as crianças de outrora, que gostavam de animes, são os adultos de hoje que trabalham e têm poder de compra para investir em seus hobbies.
Se falamos em cultura como um conjunto de normas, costumes e manifestações artísticas de uma determinada época ou povo, não podemos dissociar a cultura pop da própria construção do que é o ser humano atual. Obras como Harry Potter, Cavaleiros do Zodíaco, Percy Jackson, One Piece e os bilionários filmes da Marvel são tanto influenciadas quanto influenciam os pilares constitucionais dos sujeitos que crescem consumindo essa cultura.
Em tempos mais antigos, a moral, os costumes, as regras e os comportamentos sociais eram predominantemente moldados por um único livro, especialmente no ocidente. No entanto, o mundo contemporâneo abriu espaço para existências mais plurais, permitindo que a cultura se modifique dinamicamente e estabeleça novos signos de identificação humana, bem como a capacidade de formar a própria existência com mais pluralidade.
Dentro da Logoterapia, Frankl aborda as perdas de tradições que podem deixar o sujeito um pouco perdido, sem saber que caminhos tomar, não como um juízo de valor, mas como uma análise da realidade material. Contudo, ao pensarmos no mundo atual, podemos questionar se tais tradições não são estabelecidas de maneira diferente do que no passado.
As tradições não precisam necessariamente ser milenares ou centenárias. O tempo necessário para que tradições sejam incorporadas na realidade concreta e se tornem componentes que influenciam comportamentos de grupos inteiros pode variar amplamente.
O ser humano utiliza símbolos concretos para expressar suas abstrações ao mundo. Podemos nos inspirar a ser corajosos como um aluno da Grifinória, inteligentes como Annabeth Chase, determinados como Seiya ou rebeldes como Luffy. As referências mudam com o tempo, refletindo o espírito da época, o “zeitgeist”.
Observamos quem queremos ser através dos exemplos da cultura pop e traçamos uma ponte entre o que somos e o que desejamos nos tornar. Você já se emocionou com a morte de Mufasa? Ficou apreensivo com a Samara saindo da TV? Se revoltou com a desigualdade em Parasita? A cultura pop nos afeta verdadeiramente e somos convidados a afetar o mundo com o que aprendemos dela.
A questão é: você tem respondido a esse convite?
Luiz Guedes é psicólogo logoterapeuta, especialista em Logoterapia e Psicologia Fenomenológica-Existencial, mestrando da UFCSPA, gosta de nerdice e acredita que a construção humana e social passa por consciência de classe. Também adora dogs de roupinha e so quer sossego na vida. @diariodosentido