Minha mãe sempre disse que, no fim da vida, a beleza se vai.
E o que sobra?
Por isso — ela completava — é importante escolher um parceiro para além da aparência física.
Demorei a entender que ela não estava falando apenas sobre rugas ou cabelos brancos, mas sobre profundidade existencial.
Na Logoterapia, Viktor Frankl nos lembra que o ser humano é um ser tridimensional: corpo, psique e espírito.
O corpo envelhece, a mente amadurece, mas é o espírito que permanece aberto à liberdade e ao sentido.
Quando falamos de amor, isso significa que o verdadeiro amadurecimento afetivo acontece quando começamos a amar a partir dessa dimensão espiritual — aquela que reconhece no outro um ser único, livre e irrepetível, assim como nós.
Um envelhecimento saudável é mais do que cuidar do corpo: é permitir que o tempo refine o olhar.
É deixar que o amadurecimento nos aproxime daquilo que é essencial, da capacidade de amar com presença, gratidão e sentido.
Mas esse tipo de amor não é privilégio da velhice.
Ele nasce em qualquer idade — em toda pessoa que se abre para a dimensão espiritual da vida e das relações.
Enquanto o amor imaturo se apoia na aparência e o amor psíquico se apoia nas projeções, o amor espiritual é aquele que enxerga o ser.
Ele não busca o que o outro oferece, mas o que ele é.
Não espera perfeição, mas reconhece valor — mesmo nas imperfeições.
É o amor que compreende que o tempo pode tirar a juventude, mas nunca rouba o sentido de existir e de compartilhar a vida com alguém.
Envelhecer, então, é um convite à autenticidade.
É um processo de despojar-se das camadas que distraem — vaidade, controle, idealizações — para se reencontrar com a essência.
E é também o caminho para um amor mais maduro: aquele que não quer mudar o outro, mas crescer junto dele.
Frankl dizia que “o amor é a forma mais elevada de encontrar sentido na existência de outra pessoa”.
E talvez o envelhecer saudável seja exatamente isso: aprender a ver o outro e a si mesmo com os olhos do espírito.
No fim, minha mãe tinha razão — a beleza se vai.
Mas o que sobra é o que realmente importa: a presença, a verdade, o sentido de caminhar junto.
Porque o amor autêntico não é o que desafia o tempo.
É o que amadurece com ele — e encontra, na passagem dos anos, o espaço perfeito para transcender
Camila Moyano é psicóloga clínica, logoterapeuta, atende adultos e casais. Pós-graduanda em Logoterapia e Saúde da Família. Natural de São Paulo capital, gosta de boas leituras, cafés e viagens, Cria conteúdo na internet sobre relacionamentos saudáveis, comunicação autêntica e estilo de vida sempre com a intenção de simplificar e tornar a psicoeducação possível. @acamilamoyano