Coluna
Amores autênticos

por Camila Moyano

Amor e envelhecimento: o que permanece quando tudo muda

Minha mãe sempre disse que, no fim da vida, a beleza se vai.

E o que sobra?

Por isso — ela completava — é importante escolher um parceiro para além da aparência física.

Demorei a entender que ela não estava falando apenas sobre rugas ou cabelos brancos, mas sobre profundidade existencial.

Na Logoterapia, Viktor Frankl nos lembra que o ser humano é um ser tridimensional: corpo, psique e espírito.

O corpo envelhece, a mente amadurece, mas é o espírito que permanece aberto à liberdade e ao sentido.

Quando falamos de amor, isso significa que o verdadeiro amadurecimento afetivo acontece quando começamos a amar a partir dessa dimensão espiritual — aquela que reconhece no outro um ser único, livre e irrepetível, assim como nós.

Um envelhecimento saudável é mais do que cuidar do corpo: é permitir que o tempo refine o olhar.

É deixar que o amadurecimento nos aproxime daquilo que é essencial, da capacidade de amar com presença, gratidão e sentido.

Mas esse tipo de amor não é privilégio da velhice.

Ele nasce em qualquer idade — em toda pessoa que se abre para a dimensão espiritual da vida e das relações.

Enquanto o amor imaturo se apoia na aparência e o amor psíquico se apoia nas projeções, o amor espiritual é aquele que enxerga o ser.

Ele não busca o que o outro oferece, mas o que ele é.

Não espera perfeição, mas reconhece valor — mesmo nas imperfeições.

É o amor que compreende que o tempo pode tirar a juventude, mas nunca rouba o sentido de existir e de compartilhar a vida com alguém.

Envelhecer, então, é um convite à autenticidade.

É um processo de despojar-se das camadas que distraem — vaidade, controle, idealizações — para se reencontrar com a essência.

E é também o caminho para um amor mais maduro: aquele que não quer mudar o outro, mas crescer junto dele.

Frankl dizia que “o amor é a forma mais elevada de encontrar sentido na existência de outra pessoa”.

E talvez o envelhecer saudável seja exatamente isso: aprender a ver o outro e a si mesmo com os olhos do espírito.

No fim, minha mãe tinha razão — a beleza se vai.

Mas o que sobra é o que realmente importa: a presença, a verdade, o sentido de caminhar junto.

Porque o amor autêntico não é o que desafia o tempo.

É o que amadurece com ele — e encontra, na passagem dos anos, o espaço perfeito para transcender

Camila Moyano é psicóloga clínica, logoterapeuta, atende adultos e casais. Pós-graduanda em Logoterapia e Saúde da Família. Natural de São Paulo capital, gosta de boas leituras, cafés e viagens, Cria conteúdo na internet sobre relacionamentos saudáveis, comunicação autêntica e estilo de vida sempre com a intenção de simplificar e tornar a psicoeducação possível. @acamilamoyano

Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Propósito