Coluna
Barba, cabelo e bigode

por Ronnedy Paiva

A formação de homens através do futebol

Quando falamos em Brasil, é fácil associá-lo ao futebol, esporte que já trouxe muita alegria e comemoração ao nosso país.

E é interessante pensar como o futebol desempenha uma forte influência na construção da masculinidade do brasileiro.

Desde a infância, sobretudo entre os meninos, há um incentivo enorme à prática desse esporte que tanto tem a desenvolver habilidades motoras e sociais, além de transmitir valores como força, competição e virilidade. Quem se lembra, no início dos anos 2000, antes da popularização dos smartphones e dos jogos online, quase todo menino carregava consigo o sonho de se tornar jogador de futebol. Fosse na rua ou na escola, chuteira, bola e torcida estavam presentes onde quer se olhasse.

Esse esporte, tão amado pelos brasileiros, tem a capacidade de incluir qualquer um que demonstre disposição para correr atrás de uma bola e tenha um mínimo de habilidade, mas também pode excluir facilmente aqueles que não se encaixam em um ideal tradicional de masculinidade, sendo, muitas vezes, um ambiente hostil e violento para essas pessoas. A prática de outros esportes, muitas vezes, acaba sendo mais receptiva nesse sentido.

Lógico que, não apenas por essas questões, o futebol é muitas vezes visto como um esporte violento, onde os homens, não só jogadores, como também e, principalmente, torcida, são tomados por um espírito conformista, assumindo riscos e colocando outros em situações de perigo. Com esse pano de fundo, onde o amor se torna obsessão, cada vez mais jogadores são cobrados a desempenhar um papel de influência por meio de suas atitudes dentro e fora de campo. Espera-se deles raça, imposição física, liderança e, se possível, até ódio pelos adversários, além da exigência de restringirem ao máximo sua vida pessoal quando o time está em má fase, caso contrário, será cobrado, xingado e, no pior cenário, agredido. Com resultados positivos, felicidade e gozação. Com resultados negativos, ânimos a flor da pele e pouca receptividade a brincadeiras. O estado de tensão impera em quem joga e em quem torce.

Mas existe esperança! A formação de jogadores e, mais do que isso, de homens que atuam profissionalmente no futebol, tem tomado novos rumos.

O ensino de valores como respeito, profissionalismo e humildade tem ganhado espaço nas categorias de base e nas falas de atletas mais conscientes do impacto que causam aos seus fãs e telespectadores.

Aos poucos, o futebol vai se tornando também um campo de formação ética e emocional, onde ser homem não está mais ligado apenas à força ou à agressividade, mas à capacidade de lidar com frustrações, trabalhar em equipe e demonstrar empatia.

Nesse novo cenário, o futebol brasileiro pode deixar de ser apenas um símbolo de masculinidade tradicional para se tornar um agente de transformação social, dentro e fora de campo. Os torcedores podem, nesse mesmo rumo, aprender a lidar melhor com as frustrações das derrotas do seu time e a tolerar mais o diferente.

Em entrevista ao site UOL (2022), o então técnico da divisão de base do Palmeiras, Paulo Victor, afirmou:

“Acima das conquistas, está a evolução, o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento profissional. A gente bate muito na formação do homem, na formação do ser humano. Acredito muito no aspecto mental, na formação do atleta. Então, a gente tem trabalhado muito esses pontos.”

Em concordância, o coordenador de base do mesmo clube, João Paulo Sampaio, explicou em entrevista ao R7 (2023) que:

“Precisamos preparar essa pessoa para o mundo, não só o jogador.”

Essa formação é crucial para que o menino que sonha em ser jogador de futebol não transforme esse sonho em um pesadelo diante do deslumbramento com a nova realidade. Família e clube exercem influência fundamental nesse processo. Já para aqueles que não tiveram a oportunidade de se tornarem jogadores profissionais, o desafio se estende, seja jogando entre os amigos no final de semana, seja torcendo para o time do seu coração, ou ainda, ensinando para as futuras gerações aquilo que encantou uma nação: o futebol.

Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva

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