Coluna
Trabalho em si e por si

por Flávia Costa

Por um mercado que promova menos inteligência emocional e mais conhecimentos sentimentais

No trabalho, a gente ganha dinheiro, é verdade. Mas também ganha vida, encontros e, principalmente, sentimentos. Sentimentos que surgem das nossas vivências, dos nossos valores e da forma como enxergamos o mundo — e que moldam como nos sentimos, todos os dias.

A psicologia mostra que emoções são respostas imediatas, mas sentimentos são construções mais profundas. Eles contam a história do que a gente viveu e de quem a gente é. Mesmo quando não fazem muito sentido, ainda assim merecem atenção — porque sentir faz parte de estar vivo.

Muita gente acredita que inteligência emocional no trabalho é a solução mágica: uma fórmula para não se abalar nunca e lidar com tudo de forma perfeita. Mas essa ideia cria uma falsa sensação de controle. Como se existisse um manual para lidar com as situações e com as pessoas: “haja assim para que X aconteça”. Só que a vida — e o trabalho — não funcionam desse jeito. Somos humanos, não máquinas. Não dá para viver tentando controlar tudo que surge dentro da gente ou ao nosso redor.

A gente precisa parar de tentar “não sentir demais” e começar a se perguntar: quais situações e ações me fazem me sentir assim? Porque não se trata de não sentir, mas de reconhecer o que esses sentimentos dizem sobre quem somos, o que queremos e o que precisamos mudar.

Quando começamos a prestar atenção de verdade aos nossos sentimentos, descobrimos muito sobre o que o trabalho representa para nós. Descobrimos também onde estão nossos limites, o que nos fortalece e o que não cabe mais. Essa é a essência de viver com autenticidade e responsabilidade: entender que, mesmo sem controlar tudo o que acontece, podemos escolher como responder e como cuidar do que sentimos.

Trabalhar não é só executar tarefas: é viver. E viver é sentir. Então, vale a pena trocar a ideia de que “nada vai te abalar” por outra: a de aprender a sentir, acolher o que surge e usar isso como um convite para crescer de um jeito que faça sentido — de verdade.

Pergunte a si mesmo: como o trabalho me faz sentir hoje? Quais situações e ações me fazem me sentir assim? E como quero me sentir daqui para frente? Essas perguntas não têm respostas fáceis, mas podem trazer um novo olhar para a forma como você escolhe viver — e trabalhar.

Flávia Costa é psicóloga clínica, logoterapeuta em formação e mentora de carreiras. Natural do Rio de Janeiro, tem como missão disseminar a aplicabilidade da Psicologia no dia a dia. @flaviacpsi

Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Revista Propósito