Coluna
Barba, cabelo e bigode

por Ronnedy Paiva

A ausência de homens e o medo de compromissos

Uma das queixas bem presentes nos meus atendimentos clínicos e no meu convívio com amigas e conhecidas é sobre a “ausência de homens” na atualidade. Claro, essa ausência não acontece de forma literal, como se não houvesse pretendentes. Eles estão por aí: na academia, no trabalho, na roda de amigos, nas redes sociais e nos aplicativos de relacionamento. A ausência, entretanto, refere-se a um âmbito mais subjetivo: o do comprometimento.

Relatos de encontros casuais que não avançam por falta de maturidade, perspectiva de futuro, responsabilidade afetiva e comprometimento são queixas recorrentes, apontadas como empecilhos para o início de uma relação. Contudo, essas reclamações também têm surgido em relacionamentos já estabelecidos — o que torna a situação ainda mais complexa.

No livro Homens em Fúria (2005), o autor relata a história de um homem de 47 anos, solteiro, que, embora tenha tido diversas namoradas, nunca se casou. Ao refletir sobre esse caso, ele apresenta algumas possíveis explicações para essa escolha, gostaria de destacar duas. A primeira está relacionada à sua ideia de liberdade: o desejo de fazer o que quiser, da forma que bem entender, fazia com que ele acreditasse que permanecer solteiro era a opção de continuar livre. A segunda envolve sua fragilidade emocional — a dificuldade de se vincular afetivamente e o medo da verdadeira intimidade.

O interessante nesse relato é que, ao observarmos a atualidade, encontramos diversas histórias semelhantes. Homens que olham para si mesmos em busca de poder e prazer, objetificando o outro, iniciando relações como se fossem “Eu-Isso”, e não “Eu-Tu”. Homens que não refletem sobre autenticidade, autotranscendência e sentido da vida. Assim, podemos perceber que essa ausência masculina pode ser reflexo da falta de cuidado consigo mesmo, sustentada por um machismo cultural que coloca o homem em um lugar blindado, como se ele não tivesse problemas a serem enfrentados. O impacto dessa negligência se manifesta tanto no plano interno quanto externo, refletindo-se nas relações, nas dificuldades de vínculo e na recusa ao comprometimento.

Enfrentar uma cultura que adoece os vínculos é uma tarefa coletiva. Somente quando, enquanto homens, olharmos para nossas próprias dificuldades e reconhecermos as feridas silenciadas por padrões tóxicos de masculinidade, poderemos desenvolver vínculos mais autênticos. Para isso, é preciso reconhecer vulnerabilidades, buscar autoconhecimento e abrir espaço para o diálogo, pois relações maduras são construídas com atitudes maduras. Não se trata de abandonar a liberdade, como pensado pelo personagem do livro, mas de assumir a responsabilidade que a liberdade verdadeira exige. É hora de pensar o que é ser homem na relação.

 

Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva

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