Matéria de capa

O que você faz com o que sente?

Camila Moyano

“Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades

humanas escolher sua atitude em qualquer conjunto de circunstâncias.” Frankl, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes, 2021. p. 86.

 

Sentimentos não se comandam. Não se preveem, não se controlam, não se silenciam com coerção. Eles simplesmente… são. Chegam como visitantes inesperados, tomam o corpo, às vezes sussurram, outras vezes gritam. E por mais que nos esforcemos, não somos capazes de desligá-los por vontade e talvez seja aí que esteja uma das maiores verdades sobre o humano.

 

Sentimentos não se comandam

 

Na Logoterapia, falamos do ser humano como um ser tridimensional: corpo, psique e espírito. E é no campo da psique que os sentimentos se manifestam. São reações naturais, muitas vezes espontâneas, que revelam algo sobre a maneira como interpretamos o mundo e o que vivemos. Mas eles não dizem tudo sobre nós. O problema não está em sentir, mas em acreditar que somos reféns do que sentimos.

trabalho?

 

Você não é o que sente

É aí que muitos se confundem: acham que, por sentir medo, são covardes. Por sentir raiva, são ruins. Por sentir tristeza, estão quebrados. Mas os sentimentos não definem nossa essência e tampouco nosso destino. Eles nos dizem algo, mas não dizem tudo. Frankl nos lembra que há, entre o estímulo e a resposta, um espaço. E nesse espaço, vive a nossa liberdade. A liberdade de não reagir no impulso, de não se confundir com a própria emoção. De sentir profundamente, mas escolher responsavelmente. Isso não significa negar o que sentimos. Muito pelo contrário.

O que é, então, autenticidade emocional?

Autenticidade emocional não é dizer tudo que sente. É saber o que sente, nomear com honestidade e agir com sentido.

Às vezes, sentimos demais. Às vezes, sentimos atrasado. Às vezes, não conseguimos dar nome. Mas quando nos abrimos à escuta interior, aos sinais do corpo, às inquietações da alma, o sentimento deixa de ser um peso a carregar e passa a ser um sinal a considerar.

É curioso como muitos acreditam que razão e sentimento são inimigos. Como se houvesse um embate permanente entre o pensar e o sentir. Mas a verdade é que quando pensamos com consciência e sentimos com presença, somos mais inteiros.

É nessa integração que mora a completude do humano. Não há crescimento real onde só a razão impera. Tampouco onde só os sentimentos mandam. Há crescimento onde um escuta o outro e ambos se submetem a algo maior: ao espírito humano, que busca sentido até no caos. E você? Tem escutado o que sente ou tem corrido para silenciar? Talvez os sentimentos não precisem ser evitados. Talvez eles só estejam tentando te contar algo. Algo sobre o que importa. Sobre o que te move. Sobre quem você é.