Coluna
Universo feminino

por Priscilla Vogt

Guerreiras até quando???

Como assim até quando? Eu sou uma guerreira sim e me orgulho muito disso. Bom, eu não faço ideia do que e quanto você já passou em sua vida e teve que se adaptar para poder sobreviver. Nesse caminho você foi aprendendo que ser guerreira e dar conta de tudo na sua jornada era o certo. Se tornou uma mulher forte que não precisa de ajuda, até porque, quem ajuda os outros, é você. Aprendeu a engolir o choro e as emoções, afinal, uma guerreira não é frágil e, muito menos, vulnerável. O que será que os outros vão pensar? Ninguém confia em uma mulher fraca. Eu cresci numa família de mulheres que não choram. Vi minha mãe chorar apenas uma vez quando foi demitida, fora isso, nunca mais. Minhas avós então, nem se fala. Choro de felicidade uma vez na vida e olhe lá. E o engraçado é que eu nasci a chorona da família. Até lembrando disso para escrever essa matéria eu já quero chorar. 


Sou daquelas que me emociono fácil e não pago imposto para chorar (puxei o meu pai). Sou de uma família de mulheres fortes e guerreiras e eu estava seguindo nesse caminho também, mesmo chorona (nunca tive vergonha disso). A propósito, não quero dizer que vulnerabilidade tem a ver apenas com se permitir chorar, isso vai muito além. No entanto, esse já é um primeiro grande passo para começar a se libertar da guerreira. A questão é que, há pouco tempo entendi o que era, de fato, ser guerreira. Ser assim estava me custando relacionamentos e minha saúde mental. Eu não poderia errar, quem dirá fracassar ou desistir de algo que eu havia me comprometido. Jamais deixar a “peteca cair” ou não conseguir sair da cama por estar triste. Sempre ser uma boa aluna, tirar nota 10, fazer tudo muito bem feito, ser competente e sorrir sempre, pois temos que ser agradáveis. Passar por cima das minhas emoções, não deixar elas me atrapalharem até porque eu tenho que trabalhar. Coloca um salto alto, reforça essa maquiagem e bola pra frente. Está “naqueles dias”? Não importa, toma um remédio para cólica e vida que segue. Como um trator, eu seguia passando por cima do que estava sentindo porque a vida não pode parar. Será que não pode mesmo?


Eu sei que existem milhares de Priscillas guerreiras por ai. Seguindo cada dia na sua batalha, colocando sua armadura ao sair da cama e indo pra cima, mas será que precisa continuar sendo assim mesmo? Quantas vezes você esteve cansada, mas não se permitiu “baixar a guarda” e descansar só um pouquinho? Esta bem, agora é a hora que você pensa: “Mas a vida me fez ser assim!”. Tudo bem, ser guerreira te “protegeu” e te permitiu chegar até onde está, mas será que não é hora de entender porque ela existe e o que ela está fazendo aí até hoje? Porque te acompanha diariamente? Porque TEM QUE ser assim? Por favor, pensa com carinho nessas perguntas. 


Se permita, neste momento, descobrir algumas coisas importantes sobre você. No livro O cavaleiro preso na armadura do autor Robert Fisher, ele conta a história de um personagem que, depois de muitos anos usando diariamente a sua armadura, não consegue mais se livrar dela quando precisa. É aí que ele descobre o peso de viver com toda aquela armadura. O livro é fantástico e eu sempre recomendo para minhas pacientes que estão em terapia. Aproveito para te convidar a fazer essa leitura também e, quem sabe, considerar iniciar um processo terapêutico. Encerro com um grande convite a reflexão: Guerreira até quando? Não tenha medo!

Priscila Vogt é psicóloga clínica especialista em Logoterapia. Natural de Curitiba/PR, atualmente reside em Florianópolis, é amante de praia, sol e natureza. Se apaixonou por ajudar mulheres a encontrarem seu lugar no mundo e resgatarem sua autoconfiança. Hoje atua no On Line, mas também tem consultório na Ilha da Magia. @psipriscillavogt

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