Coluna
Estilo em cores

por Renata Bandeira

Consciência negra e pele negra

Comemoração da consciência negra…fiquei pensando por algum tempo sobre o que traria nessa edição. Tenho tantos recortes para trazer sobre o tema. Por exemplo, como a indústria da moda ainda deturpa os valores negros no marketing e até nas coleções. Bem, vimos um caso dessa natureza algumas vezes e uma delas ano passado quando trouxeram a Jade Picon ( modelo, atriz e influencer branca) para estrelar uma belíssima campanha criada com influências da ancestralidade negra. Ou quando apenas uma modelo negra compõe o casting de desfile das grandes maisons. Mas um outro fato ficou na minha mente e algo que ouvi em um curso de formação gigante no país continua ecoando na minha mente até hoje.

 

Um profissional de maquiagem brasileiro falou: – A pele negra não precisa de muita coisa (maquiagem). Basta um pó para tirar o brilho. E pronto. Pouquíssimas correções…- Hummm. Nós mulheres negras sabemos que não é bem assim. Pele negra tem olheira, tem manchinha, tem espinha… e as que não tem ou realmente tem pouquíssimas (assim como ocorre em peles claras também) e quiserem se maquiar? Porque gostam. Maquiar é uma arte. Pintar, criar sombra e luz com sua maior identidade visual não é apenas necessidade, mas expressa vontade, desejo.

 

O que ocorre na verdade, e o que acredito que o profissional realmente quis dizer, é que não tem oferta de produtos com direcionamento para pele negra. Sim. A maioria das marcas de maquiagem não tem em suas coleções produtos que abranjam todos os tons de pele para negras. Desde as mais claras às mais retintas. Isso falando sobre corretivo, base, pó, batom, blush, iluminador, sombra.

 

Somos 56% negros neste país segundo IBGE 2022. Portanto, maioria. Mas ainda tratados como minoria, porque apesar de maioria em números, somos minorias para os padrões estéticos. E as marcas nacionais ainda resumem as peles negras de maneira restrita e irreal.

 

Meninas de pele negra tem que fazer mais misturinha de produtos, as bases escuras esgotam ou nem chegam aos estoques porque são produzidas em menor número. Profissionais continuam tendo que (por falta de opção) ou escolhendo deliberadamente produtos mais claros que o tom de pele da cliente para embranquecimento.

 

Já avançamos um pouco, mas ainda precisa de revolução na maquiagem para pele negra. Só constar no catálogo que tem n números de cores para todas as peles não basta. Esse produto tem que chegar às prateleiras, a cliente e os profissionais de maquiagem tem que ter acesso a eles. Trabalhar com variação de tonalidades escuras entre frias e quentes também é importante, para que as negras tenham acesso a uma tonalidade cada vez mais próxima da sua pele. Pele negra é diferente da branca, hei de concordar com aquele profissional. Mas o acesso a produtos adequados para cada pele tem que ser o mesmo. E ainda acrescentarei que a ampliação de conhecimento sobre a pele negra para profissionais também é preciso ser repensado.

Renata Bandeira é jornalista há 14 anos, consultora de imagem e estilo, especialista em coloração pessoal pela Studio Imaginee com formação internacional em estilo pela Stylecore Institute. Apaixonada por cinema, por tudo da década de 90, mas por moda é desde que se entende por gente. @renatabandeira.estilo

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