Coluna
Barba, cabelo e bigode

por Ronnedy Paiva

O homem na comunidade masculina: agente de cura ou receptáculo de doenças

Recentemente, ouvi uma explicação muito interessante sobre como é mais fácil nos contagiarmos negativamente do que positivamente. No exemplo, foi citado o caso de um homem gripado. Quando outras pessoas tinham contato com ele, os riscos de contágio eram enormes. Esse fenômeno é bastante comum em escolas, especialmente na educação infantil, onde uma gripe pode se espalhar rapidamente entre as crianças. Por outro lado, se uma pessoa saudável convive com alguém que está doente, ela não consegue “transmitir” sua saúde da mesma forma que ocorre com a doença, a menos que a pessoa doente adote uma postura diferente. Ou seja, para se curar, ele precisará tomar medidas como repouso, medicação e alimentação adequada.

Quando observamos o homem inserido na comunidade masculina, percebemos que existem inúmeras “doenças” simbólicas às quais ele pode se expor e se contaminar constantemente. Entre as mais nocivas está o que chamamos de masculinidade tóxica. Embora não seja uma doença no sentido literal, certos pensamentos e comportamentos associados a essa cultura se espalham com uma rapidez impressionante. O contágio pode começar de forma sutil, como em uma “piada inocente”, que parece inofensiva à primeira vista. No entanto, sem o devido cuidado e tratamento, esses pequenos sinais podem evoluir para conversas mais carregadas, em um “diálogo febril”, até que, sem perceber, o homem se vê imerso em um “quadro mais grave”, reproduzindo comportamentos prejudiciais a si mesmo e aos outros.

Contudo, o homem inserido na comunidade masculina também pode ser um agente de saúde. Se a cura não é transmitida por osmose, certas atitudes podem facilitar uma compreensão mais ampla sobre o processo de adoecimento e incentivar um olhar mais atento para a promoção da cura. Ser um agente de saúde significa, antes de qualquer coisa, olhar para si mesmo com humildade, identificar comportamentos e pensamentos tóxicos e, a partir disso, ajudar os demais a desenvolverem uma percepção mais assertiva sobre si mesmos, rompendo e combatendo aquilo que antes os adoecia.

Viktor Frankl nos alerta sobre o perigo da culpa coletiva, enfatizando que, mesmo dentro de um grupo, as escolhas continuam sendo individuais. Isso significa que, ainda que estejamos inseridos em uma cultura masculina adoecida, somos responsáveis por nossas atitudes e pela forma como reproduzimos determinados padrões prejudiciais. Diante disso, precisamos assumir um papel mais próximo ao de um agente de saúde do que ao de um receptáculo de doenças e ideologias. Isso não significa que toda a comunidade masculina está doente, mas que há, sim, aqueles presos nesse ciclo adoecido.

Por isso, sendohomensinseridos na comunidade masculina, precisamos adotar uma postura de autoobservação,mudando o que precisa ser mudado ao observar a necessidade ou ao ouvir críticas construtivas, agindo com responsabilidade perante si mesmo, o outro e o mundo,para poder seruma resposta individual poderosa capaz de transformar, quemsabe, coletivos inteiros, promovendo, antes de tudo,um ambiente mais saudável e equilibrado para o mundo.

Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva

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