O processo de construção da masculinidade muitas vezes está ligado a ideais de força, coragem, independência, conquista e sucesso—características valorizadas em um ideal de homem. Esses ideais acabam influenciando como os homens escolhem seus ídolos e a quem admiram.
Perceba que, facilmente, você ouvirá de um homem a admiração que ele tem por atletas, músicos ou homens de negócios—figuras que tradicionalmente representam as características de sucesso, poder e força. Essas pessoas, veneráveis para alguns, atraem a atenção e acabam ditando regras de vida, ainda que não intencionalmente, por conta de sua postura “vencedora”. Em sua maioria, esses ídolos são homens.
No entanto, um aspecto frequentemente negligenciado pelos homens é o reconhecimento e a valorização das mulheres nesse espaço de admiração. O próprio conceito de masculinidade frágil parte de um ideal opositor ao feminino por caracterizá-lo como frágil, dócil e submisso. Ou seja, aspectos considerados desvalorizados para a construção de uma masculinidade admirável, que, geralmente, prioriza a dominação e a competição. Essa preferência masculina por ídolos masculinos reflete e acaba reforçando normas de gênero que limitam e desvalorizam o reconhecimento das conquistas e qualidades das mulheres, deixando de se beneficiar por inúmeros pontos admiráveis no feminino.
A título de exemplo, gostaria de destacar a maior medalhista olímpica do Brasil atualmente: Rebeca Andrade, uma mulher com seis medalhas na ginástica artística—um feito inestimável. Aproveitando o ensejo, a primeira medalha de ouro nas Olimpíadas de 2024 na França veio pelas mãos, ou melhor, pelo golpe da judoca Beatriz Souza, outra mulher! Duas mulheres que superaram os desafios de um evento mundial e que são dignas de nosso reconhecimento e admiração.
Mas, para não ficar apenas nos esportes, cito aqui Rosa Parks, uma mulher negra norte-americana que levantou a sua voz e simbolizou um movimento em busca de direitos civis para os negros nos Estados Unidos—um ato heroico e de grande importância para a sociedade!
Poderíamos citar outras tantas mulheres dignas de menção por suas conquistas e lutas, mas não há espaço suficiente para isso! Fiquemos com as já mencionadas e notemos que os homens podem ser incentivados a construir referências de admiração que não se baseiam exclusivamente em ideais de masculinidade oriundos de outros homens, mas também em uma apreciação mais ampla e diversificada que pode ser representada pelas figuras femininas que tanto têm a nos ensinar.
Essa atitude, tão simples de reconhecimento, por si só já enriquecerá a percepção individual e coletiva da sociedade, ajudando a construir ambientes mais igualitários e justos, ampliando, além disso, uma construção mais significativa do que é ser homem na atualidade.
Ronnedy Paiva é psicólogo, especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica e Pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial. Natural de Londrina-PR, gosta de futebol, livros, estudos, conversas e comida boa! Escreve sobre existência e masculinidade, acreditando que o diálogo pode transformar as relações existentes consigo, com o outro e com o mundo. @ronnedypaiva